Assunta Caterina Marchetti nasceu em Lombrici di Camaiore, Lucca, Itália, no dia 15 de agosto de 1871. Era filha de Angelo Marchetti e Carolina Ghilarducci. A família Marchetti era pobre de recursos materiais, mas rica de fé e de filhos.
Assunta desde jovem sentia o chamado de tornar-se irmã de clausura, porém, seu ingresso na vida contemplativa foi adiado por estas questões familiares, e também porque seu irmão Jose foi para o seminário, ternou-se sacerdote e depois missionário para os italianos que migravam para o Brasil.
Assunta, no entanto, crescia na fé e na caridade serviçal na família e fora dela. Acreditava que Deus iria providenciar também para ela a realização dos seus bons desejos. E, de fato, a providência de Deus chegou para ela em 1895, através do convite do padre José, seu irmão missionário.
Eram os anos em que a Europa via partir muitos dos seus patriotas, em situação de extrema pobreza e desproteção, em busca de pão nas Américas. O bispo de Piacenza, Itália, vendo este grande êxodo fundou várias instituições, entre elas a Congregação dos padres missionários de São Carlos Borromeo, scalabrinianos e das irmãs missionárias de São Carlos Borromeo, scalabrinianas.
As necessidades de assistência aos migrantes eram muitas. Padre José Marchetti iniciou por atender as populações migrantes nas fazendas de café e a recolher os órfãos abandonados que encontrava. Com a colaboração de muitos construiu o primeiro orfanato na colina do Ipiranga, SP. Logo percebeu a falta de “corações maternos” que zelassem pelo bem dos pequenos. Regressou à Itália com o objetivo de reunir algumas jovens para o serviço aos conacionais em terra estrangeira. Sabia que Assunta Caterina, sua irmã, desejava ser toda de Deus na vida de clausura, mas ousou convidá-la a abraçar a vida missionária. Falou-lhe: “Lá em São Paulo estou sozinho com quase 200 órfãos”, e indicando-lhe o quadro do Sagrado Coração de Jesus disse-lhe: “Olhe para o Coração de Jesus, escute seus apelos e depois me responda: vens ou não ao Brasil para cuidar dos pequenos órfãos filhos dos migrantes?”
Fez-se um grande silêncio! Depois de rezar e discernir, Assunta pronunciou seu sim missionário a Deus que a interpelava através do irmão missionário. Seu sim foi definitivo e total! Tinha então 24 anos. O irmão missionário convidou também a mãe Carolina, que era viúva, e mais duas jovens, Angela Larini e Maria Franceschini que formaram o primeiro grupo de irmãs para o serviço aos órfãos no Brasil. Conduziu o pequeno grupo por ele reunido ao bispo Dom João Batista Scalabrini que, com zelo apostólico, acolheu o grupo e os votos que fizeram em suas mãos. O bispo fundador exortou-as a viver na certeza da fé e, entregando-lhes o crucifixo de missionárias, disse: “Eis o companheiro indivisível nas peregrinações apostólicas, o conforto, a força, a vossa salvação”. Era o dia 25 de outubro de 1895. Nascia assim um novo Instituto Religioso na Igreja, com uma missão especifica do serviço evangélico e missionário aos migrantes no Brasil.
No dia seguinte, as missionárias, abençoadas e encorajadas pelo fundador e acompanhadas pelo cofundador, padre José Marchetti, partiram para o Brasil junto aos conacionais: “Migrantes com os migrantes”. Durante a longa viagem de navio, Assunta e as companheiras exercitaram sua vocação missionária preparando 83 crianças para a primeira eucaristia e reanimando a fé e a esperança dos companheiros de êxodo – à semelhança de Moisés e Miriam – na travessia do oceano!
Chegadas a São Paulo como “Servas dos Órfãos e Abandonados no Exterior”, assumiram os cuidados de centenas de órfãos, especialmente os filhos dos migrantes italianos e dos filhos dos ex-escravos que rondavam pelas ruas de São Paulo. A jovem religiosa, habituada a servir, não media esforços para ser mãe carinhosa, enfermeira e catequista daqueles pequenos que a Providência divina fazia chegar ao Orfanato Cristóvão Colombo, do Ipiranga, São Paulo, através do missionário, seu irmão, padre José Marchetti. Ele, não satisfeito com um Orfanato deu inicio à construção de outro orfanato na Vila Prudente, destinado às meninas órfãs. Padre José em seu zelo não temia nada e servindo em meio aos contaminados pela epidemia do tifo, veio a falecer com apenas 27 anos, em 14/12/1896. Aos poucos Madre Assunta assumiu a direção do Instituto nascente e, com suas coirmãs, continuava o serviço no Orfanato com tudo o que isto comportava: alimentação, saúde, educação, dívidas!
O Instituto das Servas dos Órfãos e Abandonados no Exterior, em seus primeiros anos, passou por grandes dificuldades e perigos de extinção. Madre Assunta foi forte e persistente em preservar, de intromissões indevidas, o carisma da Congregação, e venceu, pois tinha a convicção que: “Deus nos prova, mas não nos abandona”. É por isto que a consideramos a “mulher forte e santa de nossas origens”. Uma espécie de pedra angular da Congregação que hoje é conhecida como: Irmãs Missionárias de São Carlos Borromeo, Scalabrinianas.
O estilo de vida era simples, devoto e serviçal. A santidade que expressavam em sua missão atraíram muitas jovens, a quem Deus tinha dado o dom da vocação religiosa. Assim, a Congregação cresceu e se expandiu no Brasil e fora dele, expressando a caridade evangélica entre os migrantes, missão própria do Carisma scalabriniano.
Madre Assunta Marchetti, migrante desde o início de sua vida de religiosa consagrada, continuou sua migração no Brasil, servindo em diversas cidades de São Paulo e no Rio Grande do Sul.
No amor a Jesus eucarístico, ao amável Coração de Jesus e à Santíssima Virgem Maria, hauria forças para viver todos os acontecimentos à luz da fé e assim foi em toda a sua humilde e amorosa existência. Exerceu a missão de superiora geral por dois períodos, foi enfermeira, administradora, mãe dos pequenos órfãos, cozinheira nos Orfanatos, nos asilos e hospitais. Uma religiosa exemplar, sempre pronta a “estender os braços ao infeliz e abrir as mãos aos indigentes” (cf. Pr 31,20).
Quando trabalhava nos hospitais, tinha pouco tempo para o descanso, pois os doentes a queriam por perto, seja para curar-lhes as feridas, seja para ouvirem dela uma palavra de sabedoria. Sabia prolongar os momentos de oração de dia e de noite, sem fugir do serviço desinteressado aos necessitados, que não lhe faltavam. Tinha a convicção profunda de que “Deus nos ama, por isto nos visita com suas cruzes”. Atenta em fazer a santa vontade de Deus, quis estender este ideal a toda Congregação, escrevendo: “O lema de nossa Congregação é fazer a vontade de Deus!”
A bem-aventurada Assunta Marchetti era de caráter forte, mas aprendeu a dominar-se e a tratar a todos, especialmente aos menores, com ternura de mãe. Era moderada no comer, pobre no vestir, buscando sempre fazer os trabalhos mais difíceis para beneficiar as coirmãs. Vivia a serenidade dos que sabem que “os sofrimentos do tempo presente não tem proporção com a glória que deverá revelar-se em nós” (Rm 8,18).
Após uma longa vida, 76 anos, faleceu no Orfanato Cristóvão Colombo, Vila Prudente, São Paulo, no dia 1º de julho de 1948. As órfãs que lá se encontravam exclamaram: “Hoje morreu a caridade! Hoje morreu uma santa!” Belas verdades intuídas pelas menores que bem conheciam Madre Assunta.
Depois de um longo processo no qual foram reconhecidas as virtudes heroicas e o milagre de Deus alcançado por sua intercessão, o Papa Francisco declarou-a digna da beatificação. Por isto foi realizada a cerimônia de beatificação em 25 de outubro de 2014, na Catedral Metropolitana de São Paulo, SP, Brasil.
Ir. Leocádia Mezzomo
Missionária Scalabriniana