“Sinto mesmo que na minha cabeça não estou eu,
mas está o querer de Deus que se serve de mim, sem que eu perceba”
Padre José Marchetti
Sabe-se que o pensamento é uma faculdade da mente poderosíssima. Ela está intimamente conectada com as demais áreas de uma pessoa: fisiológicas, psicológicas e afetiva do ser humano, e envolve o passado o presente e projeta-se para um futuro. Não pretendo abordar estes complexos sistemas e isto nem seria possível aqui. Apenas compartilho algo que sempre me impacta quando leio ou ouço esta fala intrigante do nosso querido Padre José Marchetti. “Sinto mesmo que na minha cabeça não estou eu, mas está o querer de Deus que se serve de mim, sem que eu perceba”.
Entendo aqui, que este seu sábio desabafo está mencionando uma experiência mística profunda de seus pensamentos percebidos como algo que lhe o transcende, não mais como pertencentes a ele, mas sim os pensamentos de Deus sobre ele e para ele. Foi uma experiência de eleição do alto, compreendido e assumido à luz da fé, pois ele mesmo diz que não compreende.
Sabe-se que pequenos e grandes projetos iniciam com o pensamento que por sua vez move o desejo e direciona para as ações. Os fatos nos narram que o pensar e agir do venerável Pe. José Marchetti evidencia que ele era conduzido por uma paixão desmedida por Cristo, fato este suficiente para motivá-lo a uma entrega apaixonante no serviço e promoção da vida. Escolheu ser o místico das pequenas coisas nas simples e pequenas ocasiões. Encontrou o sabor da doação contínua e o gosto pelo que lhe era essencial: “amar servindo e servir amando”. Foi inteiro em tudo que fez. Entendeu e praticou brilhantemente o conselho do apóstolo Paulo: “Tudo o que podeis dizer ou fazer, fazei-o em nome do Senhor Jesus, dando graças, por ele, a Deus Pai” Col 3, 17.
Sua pertença à a Deus não lhe permitiu cruzar os braços nem 15 minutos, valorizou a graça do momento presente, do já, do aqui e agora, peregrinou, evangelizou, acolheu, sensibilizou-se, se emocionou, abençoou, rezou muito, insistiu, incluiu, dialogou, rompeu barreiras, projetou, dedicou-se, foi ousado ao extremo, fatigou-se, celebrou, agradeceu! Agradeceu muito, muito mesmo! Acreditou desde o início que a missão era sua verdadeira vocação, e que Deus escolheu usá-lo como irmão, pai e provedor de um povo em situação de itinerância buscando soluções para suas vidas. De fato a graça o transformou de um “pecador em um santo”. Lapidou sua alma e em toda e qualquer situação manteve em seu coração e lábios a bem aventurada expressão: “Deo gratias”. Ainda em vida sentia-se como uma águia leve e suave conduzida pelo sopro divino para ser bálsamo que com ternura, otimismo e bondade sabe ser uma presença qualitativamente salvadora. Assim pode nos presentear este legado puro, sábio e humilde que brota do seu coração: “Sinto mesmo que na minha cabeça não estou eu, mas está o querer de Deus que se serve de mim, sem que eu perceba”.
Papa Francisco em Laudato Si n. 84, falando que o universo material é uma linguagem do amor de Deus, do seu carinho sem medida por nós, como o solo, a água, as montanhas, florestas, flores e frutos…termina com esta expressão: “tudo é carícia de Deus”. Estaria eu exagerando ao pensar que a passagem de Pe. Marchetti entre nós é uma “carícia de Deus” para com os pequenos órfãos, com os migrantes, com a igreja com as Irmãs missionárias scalabrinianas, e com todos os que cruzaram seu caminho?
Favorecendo ressonâncias:
Como irmã mscs, este místico das pequenas coisas e das pequenas ocasiões podem iluminar, motivar e acrescentar um jeito novo de resignificar nosso seguimento a Jesus Cristo. Como é isto para você?
Refletir, discernir é uma atitude de transparência diante de nossos desejos, sonhos, projetos e ação missionária. Pe. José Marchetti parece nos acenar a seriedade deste método para alinhar nosso ser e agir com o projeto de Deus. O que você pensa sobre isto?
Autora: Irmã Zenaide Martins de Oliveira,mscs
Orientação e supervisão de: Ir. Leocádia Mezzomo,mscs
Aparecida, 02 de Maio de 2021