O Catecismo da Igreja Católica (CIC) diz que as virtudes teologais são dons de Deus que recebemos como gérmen no sacramento do Batismo. Germens que contêm toda a potencialidade de crescer e dar frutos. São teologais especialmente porque, recebidas/infusas por Deus em cada pessoa humana, e porque, por meio delas, cada criatura humana pode viver a experiência do amor de Deus, como bem ensina São João: “Não fomos nós que amamos a Deus, mas foi ele que nos amou primeiro” (1Jo 4,10).
“A fé é a certeza das coisas que se esperam e a comprovação dos fatos que não são vistos” (Hb 11,1). Assim a carta aos Hebreus apresenta à comunidade cristã uma lista dos antepassados que, pela fé, testemunharam a eficácia da ação divina na história, pois para Deus nada é impossível. A fé é uma força que nos introduz mais profundamente no mistério de Deus e no mistério do outro; ela dispõe o fiel a não buscar sua própria satisfação ou felicidade em parâmetros egoístas, e sim em um processo que lhe permita penetrar no maravilhoso plano de salvação oferecido por Deus à humanidade. De tal modo, a fé ajuda-nos a sair de nós mesmos para penetrarmos no querer de Deus, que em nossa história tem traços e rosto humanos.
“A fé é a resposta do homem ao Deus Criador, ao Deus que se revela e por isto a ele se doa” (CIC n. 26). A fé traduz-se em confiança, percebe-se com a luz da razão e fortifica-se no encontro com “Deus amor” (1Jo 4,8.16). Fé é um dom de Deus, uma virtude sobrenatural que não provém “da carne e do sangue, mas do Pai que está nos céus” (Mt 16,17). Fé é sempre obediência a Deus, pois implica submissão livre do ser humano a Deus.
A esperança é a virtude teologal pela qual desejamos e esperamos de Deus a vida eterna, a felicidade plena no Reino dos céus. Essa virtude é confiança nas promessas de Jesus Cristo e no socorro da graça do Espírito Santo. Graças a ela, a pessoa relativiza os bens terrenos e supera os males desta vida, certa de que Deus é fiel às suas promessas: “Ora, a esperança não confunde, porque o amor de Deus é derramado em nosso coração pelo Espírito Santo, que nos foi outorgado” (Rm 5,5).
A caridade é a virtude teologal pela qual amamos a Deus acima de todas as criaturas, porque ele é Deus, e ao nosso próximo como a nós mesmos por amor a Deus. O amor é uma exigência, um mandamento que “pode ser mandado porque antes nos é dado gratuitamente por Deus amor”. Pois, “não fomos nós que amamos a Deus, mas ele nos amou primeiro” (1Jo 4,10.19). “Até o extremo nos amou”.
Essas virtudes, também chamadas de virtudes humanas, atitudes firmes, disposições estáveis, que regulam o agir humano, guiando a pessoa segundo os princípios da razão e da fé. São elas:
A fortaleza é a virtude cardeal que, em meio às dificuldades, assegura a firmeza e a constância na busca do bem. Ela torna firme a decisão de resistir às tentações e de ajudar a superar os obstáculos na vida moral. A virtude da fortaleza dá capacidade para vencer o medo, mesmo o da morte, e faz enfrentar a provação e as perseguições. Dispõe a pessoa à renúncia e ao sacrifício da própria vida na defesa de uma causa justa.
A virtude da prudência dispõe a razão prática a discernir, em qualquer circunstância, o verdadeiro bem e a escolher os meios adequados para realizá-lo, subordinados ao querer divino. Não se confunde com a timidez ou com o medo nem com a duplicidade ou dissimulação. É a prudência que guia o juízo da consciência. A pessoa prudente decide e ordena sua conduta seguindo esse juízo. O agir prudente consiste em deliberar com maturidade, decidir com sabedoria e executar adequadamente.
Segundo o Catecismo da Igreja Católica, “a virtude da temperança modera as atrações dos prazeres sensíveis e impõe o uso equilibrado dos bens criados. Assegura o domínio da vontade sobre os instintos e mantém os desejos dentro dos limites da honestidade” (CIC n. 1888).
Temperança vem do latim “temperare”, que quer dizer: ser moderado, equilibrado, ordenado. A virtude da temperança está intimamente ligada à virtude da fortaleza; ela modera a inclinação ao prazer sensível, especialmente do tato e do paladar, contendo-a entre os limites da razão iluminada pela fé.
Justiça é a virtude moral que consiste na vontade constante e firme de dar a Deus e ao próximo o que lhes é devido. “A justiça para com Deus chama-se “virtude da religião”; para com os homens, ela determina os direitos de cada um e estabelece, nas relações humanas, a harmonia que promove a equidade em prol das pessoas e do bem comum” (CIC n. 1807).
Justiça é virtude que assemelha a pessoa a Deus Pai, que é bom e justo para com todos, estendendo a salvação a todos os que de coração aberto o acolhem. Sua justiça salva. A justiça na vida da Bem-aventurada Assunta era espaço divino de resgate e acolhida para com tantos pobres que dela se aproximavam e recebiam o gesto de justiça que os “salvou” da miséria desumanizante.
O evangelho transmite-nos a ideia de que a virtude da humildade é “pobreza em espírito”, é capacidade de reconhecer a própria criaturalidade e assumi-la serenamente, confiando em Deus presente e providente na caminhada de seus filhos.
Humildade é aquela atitude que o Verbo de Deus assumiu com a encarnação: “Ele se fez pobre, humilde, por nós” (2Cor 8,9). E ainda “humilhou-se assumindo a forma de servo” (Fl 2,7), ou seja, Jesus assumiu a humildade voluntária, rebaixou-se, assumindo a forma de servo, e o Pai o exaltou com a ressurreição (At 2,33).
Humildade deriva do latim “húmus”, isto é, da terra. A virtude da humildade, portanto, é o oposto do orgulho, do enaltecer-se por razões efêmeras, terrenas. O orgulhoso basta-se a si mesmo; o pobre em espírito, o humilde, busca Deus e seu Reino.
O Catecismo da Igreja Católica diz que a “humildade é o fundamento da oração. É a disposição para receber gratuitamente de Deus o dom da oração tão necessário para seus filhos, pois “o homem é um mendigo de Deus” (CIC n. 2559) e sem a oração perderia sua identidade filial.
A Bem-aventurada Assunta viveu todas as virtudes: teologais, cardeais e morais com muita humildade, ciente de ser uma das mais “humildes servas do Senhor”, fazendo sua vontade, enaltecendo a Deus, que se serve dos pequenos e humildes para realizar suas obras de bem em favor dos marginalizados da história.
Ir. Leocádia Mezzomo
Missionária Scalabriniana