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Nos passos do tempo

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“Pelo voto da caridade anteporei em tudo o próximo a mim mesmo, aos meus prazeres, à minha saúde, à minha vida. Com o voto de não perder mais de um quarto de hora em vão, consagro a vós e a meu próximo todo o amor do coração, toda a energia do intelecto, toda a força física e moral do meu corpo. É terrível este voto, eu, mas com a vossa ajuda tornar-se-á doce e suave” (Fórmula dos votos perpétuos emitidos por padre José Marchetti, 03/10/1896). 

Os passos do tempo do Padre José Marchetti cadenciaram sua vida como criança e como jovem sonhador e realizador de sua própria vocação. Seus passos se apressaram nas montanhas de Camaiore e de Compignano na Itália. Para um coração que ardia pela missão da Igreja, pulsava comovido o drama dos que partiam para as terras brasileiras. Seus paroquianos diante da miséria dramática, apressaram seus passos para garantir a sobrevivência na travessia do oceano até alcançar os caminhos brasileiros.

Nos passos de seu povo, como pastor, moveu-se e abraçou a causa da migração como missionário Scalabriniano que lhe dava o passaporte de alcançar a muitos, que por razões de sobrevivência sonharam e buscaram outra pátria. Com eles, Pe. José faz a experiência da travessia nas mesmas condições de seus “paisanos” e a bordo é um migrante que faz a diferença no empenho, nas expectativas e das novidades da chegada. 

Nos passos pelas estradas, povoados, cafezais seu coração acolhe órfãos, dispensa sorrisos de conforto aos doentes e desanimados, prevê trabalho, comida, visita, enxuga lágrimas e os faz acreditar que o novo pode tonar-se o chão, longe da aventura, do recomeço de uma etapa em suas vidas. Pode-se afirmar que padre José foi o precursor no Brasil da missão com as crianças carentes e um dos maiores impulsionadores da obra em favor dos migrantes. Sua personalidade contribui para reconhece-lo cofundador da Congregação das Irmãs Missionárias de São Carlos Borromeo, Scalabrinianas. Movido pelo espírito do bem-aventurado Scalabrini, preparou o caminho e espalhou a preciosa semente da Congregação das irmãs MSCS na fidelidade do carisma scalabriniano.

Do nobre coração de um homem jovem e missionário transbordam características específicas que sustentam tanto dinamismo, criatividade e coragem. Somente um coração cheio de Deus é capaz de estender seu olhar atento aos clamores do povo, agilizar suas mãos na criatividade e acelerar os passos na ação. Somente a profunda experiência de Deus, confirma a mística e espiritualidade expressiva que o torna sensível e obstinado na vontade de Deus.  

Pe. José, homem prático e ao mesmo tempo místico, confiante na total providência divina, faz dos desafios um canto de louvor “Deo Gratias”. De fácil convivência, sorriso cativante e grande presença, e respeitoso dos processos humanos na partilha das fadigas e esperanças, coloca-se a serviço dos últimos ao estilo de Jesus, percorrendo os caminhos que seu coração conduzia.

Após a revelação dos sonhos missionários, que o acariciavam desde seminarista, juntou-se aos pobres e migrantes no gesto concreto de sua consagração a Deus: “De agora em diante serei somente filho de Deus, à semelhança daquele Bispo em cujas mãos pronunciei meu voto”. Pelo voto da caridade transbordou antepôs em tudo o próximo, arriscou a saúde, com força de vontade, fez o voto de não perder tempo para banalidades, mas para o bem do outro nas necessidades materiais e em especial centrado nas necessidades do ser humano que lhe pertencia no cuidado.

Os desafios dos tempos no século XIX se assemelham aos novos tempos que a pandemia enquadrou a humanidade na migração, comportamentos, ideias e ideais. Repensar novos métodos e novas estruturas urgem, a fim de responder com autenticidade carismática aos apelos da migração em época de mudanças planetárias e congregacionais.

Afirmava com determinação: “Não serão recusados órfãos de outras procedências, assim como os que, não sendo órfãos, mas largados ao “Deus dará”, forem remetidos pelas autoridades competentes”. Com esta clausula, Pe. Marchetti captava a benevolência das diferentes colônias de estrangeiros e das autoridades locais, que podiam encontrar um destino para a infância abandonada da cidade. 

Hoje, em pleno século XXI, apenas mudam atores e cenários, na força do carisma scalabriniano, nas travessias, fronteiras e caminhos. A consagração ao próximo de coração e com todas as energias, suas mãos faziam subir paredes de abrigo, de um lugar humano e cristão. As palavras de José promoviam a ampla participação de envolvimento com o governo brasileiro e com as nações europeias para acolher os órfãos de imigrantes de todas as nacionalidades e assim estreitar as relações entre colonos e missionários. Pretendia dos comerciantes da área urbana, obter alimentos, assegurar alternativas de trabalho e facilitar a formação de qualidade dos órfãos.

A intensidade de ação e a proximidade com Deus, fruto de um coração generoso e de oração intensa de Pe. José junto aos órfãos, o torna compreensível ao drama que se escondia em toda a migração e intuía qual a função da Igreja na realidade. Ao acolher os “filhos da desventura” num orfanato, deu respostas concretas ao drama. Nada era previsto pelo Estado e pela sociedade brasileira, mas nas suas inquietações faz da obra o lar desejado e necessitado por tantos.

Nos passos do tempo, os rostos dos órfãos se renovam em outras culturas, etnias, sonhos e buscas. A intensidade do “pai dos órfãos” foi como a de uma estrela cadente, que passou luzente e veloz, assim como foi veloz a chegada no gozo da eterna felicidade. Consumado pelas fadigas terrenas o faz precioso no coração de Deus. 

Tantos gestos humanos e cristãos de um missionário chamado José identificam os passos de uma herança missionária convertida nos passos de Deus no tempo que só a Deus pertence. Deus o tomou no colo como carregou a tantos órfãos em seus braços de afeto, compreensão sem perde tempo, no tempo das necessidades, das urgências, dos dramas, das convicções e da vida doada por algo maior: seu incondicional amor ao outro eternizou o Deo gratias!

Para rezar: 

Atualizar o Salmo 90(89) à luz do texto, nos passos dos tempos e conforme a experiência pessoal e grupal da ação de Deus na história.

Criar uma oração vocacional à luz da vida e missão do venerável Pe. José Marchetti.

Ouvir a música: Era um menininho chorando baixinho.

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