Sob o manto da Mãe da Misericórdia

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Sob o manto da Mãe da Misericórdia

 Legado de São João Batista Scalabrini

Esta breve reflexão nos convida a voltarmos o nosso olhar para Maria, a Mãe da Misericórdia e também perfeita imagem da Igreja misericordiosa. Maria na Igreja foi constituída depositária da misericórdia de Deus, pois em seu ventre gerou Jesus Cristo, a Misericórdia Encarnada. Em nosso Santo Fundador, exímio devoto de Nossa Senhora, encontramos como a Encarnação do Verbo foi a efusão do perdão e do amor de um Deus misericordioso para com a humanidade. Em seu discurso na coroação da Virgem Maria em Bedonia – 07-07-1889 assim falou: “Maria é chamada Mãe de misericórdia, é o mesmo que dizer: Mãe da Consolação. É o seu título de Rainha. Salve Rainha, Mãe da Misericórdia, porque ela derrama sobre nossas misérias, todas as riquezas de seu coração de Mãe. (…) Em Maria encontramos luz, força, perdão, encorajamento, conforto, assistência, proteção, saúde, tudo podemos pedir e tudo esperar de nossa Mãe do céu: Mãe da consolação, causa de nossa alegria”. 

Sendo Mãe de Jesus, Maria educou seu divino Filho nas ações mais básicas da misericórdia, mas também, como fiel discípula, d’Ele aprendeu e guardou em seu maternal coração todos os fatos que seu amor misericordioso dispensara à humanidade. De igual modo, a Igreja educa seus filhos na misericórdia e procura ela mesma colocar em prática esta misericórdia, sobretudo nas ações mais concretas. A cultura da misericórdia forma-se na oração assídua, na abertura dócil à ação do Espírito Santo, na familiaridade com a vida da Mãe da misericórdia e na solidariedade concreta para com os migrantes e refugiados. 

Como Irmãs missionárias scalabrinianas herdamos de nosso fundador uma profunda espiritualidade mariana. Se nos debruçarmos em suas cartas pastorais e em seus escritos constatamos como cultivou em sua vida a devoção mariana.

“Considerai que a devoção a SS. Virgem deve ser sólida, isto é, não dever ser uma devoção superficial e leviana, que acaba na exterioridade de poucas práticas; mas deve conduzir-vos a purificar a alma dos defeitos e enriquecê-la de virtudes. (…) Se a amais, não vos será difícil, porque o amor impele à imitação e produz semelhança. Fixai os olhos nas virtudes de Maria, observai como ela se regula, e esforçai-vos por retratá-la em vós mesmos”.

Maria, mãe da Misericórdia encarnada, é aquela que intercede por nós junto a seu Filho, ensinando-nos a acolher a misericórdia e humildemente reconhecer nossas fraquezas e pecados, entregando-os ao Senhor Jesus, que nos salvou dando sua própria vida. Maria é uma profetiza que exalta a misericórdia de Deus. No cântico do Magnificat (cf. Lc 1,46-55) duas vezes Maria louva a Deus misericordioso: “Sua misericórdia se estende, de geração em geração, sobre os que o temem” e “acolheu a Israel, seu servo, lembrado da sua misericórdia”. Maria exalta a Misericórdia de Deus que se faz visível em Cristo, sublinhando que a misericórdia de Deus se estende de geração em geração. 

Foi assim que São João Batista Scalabrini contemplou e encarnou em sua vida a ternura da Mãe da Misericórdia: “Imitemos Maria conforme a medida da graça que Deus nos dá; a seu exemplo peçamos a Deus por intercessão de tão augusta Senhora, sermos fervorosos na oração; humildes nas palavras e nos afetos; resignados ao querer divino; nas tribulações, cheios de amor por Deus e de caridade sincera, para todos os nossos irmãos”. 

O nosso Direito Próprio contempla e orienta de modo bem concreto de como devemos dedicar a Maria a nossa devoção filial. “Tributamos amor e culto filial a Maria, Mãe de Deus e da Igreja, e a imitamos como perfeito modelo de vida espiritual e apostólica. Cada comunidade escolherá a maneira de manifestar seu amor a Maria, dando preferência à reza do rosário”

Acabamos de celebrar o Ano Jubilar, 125 anos de profícua história de nossa Congregação e, com gratidão, é oportuno fazermos memória de nossos cofundadores a bem-aventurada Assunta Marchetti, o Venerável Pe. José Marchetti e de nossas queridas Irmãs que nos antecederam, pois viveram com fidelidade este legado recebido de Deus pela mediação De São João Batista Scalabrini que nos deixou um exemplo de vivência encarnada da devoção à Virgem Maria.

Lembremos o saudoso Papa São João Paulo II e hoje o Papa Francisco de como nos falam em seus documentos sobre o amor filial à Mãe da Misericórdia: “Maria é aquela que conhece mais profundamente o mistério da misericórdia divina. Conhece o seu preço e sabe quanto é elevado. Neste sentido, chamamos-lhe Mãe de Misericórdia ou Mãe da Divina Misericórdia. Em cada um destes títulos há um profundo significado teológico”. 

O Papa Francisco, afirma que “Ninguém, como Maria, conheceu a profundidade do mistério de Deus feito homem. Na sua vida, tudo foi plasmado pela presença da misericórdia feita carne” Jesus Cristo. “A Mãe do Crucificado, ressuscitado, entrou no santuário da misericórdia divina, porque participou intimamente no mistério do seu amor” (…) e “guardou, no seu coração, a misericórdia divina em perfeita sintonia com o seu Filho Jesus”. Assim, podemos contemplar a Virgem Maria como Mãe da Misericórdia, pois em seu ventre gerou Jesus Cristo, a Misericórdia Encarnada.  

No final desta breve reflexão sinto-me motivada, também através do legado do de nosso Santo Fundador, a dirigir uma afetuosa súplica à Mãe da Misericórdia. 

Oremos: Ó Trindade Santa que derramastes os dons do teu Espírito sobre a Mãe da Misericórdia, suplicamos de seu coração, repleto de ternura, a sua bênção e proteção sobre nossas comunidades religiosas, sobre a Igreja, a fim de que a nossa missão junto aos migrantes e refugiados seja repleta da misericórdia. Maria, confiamos ao vosso coração materno, o caminho de fidelidade e de testemunho de nossa vida religiosa consagrada, para que o Senhor da messe nos envie vocações para a Congregação. Agradecemos-vos, ó Virgem da Misericórdia por termos herdado de nosso fundador, São João Batista Scalabrini, o testemunho de vida, de uma profunda espiritualidade encarnada. Amém.  

Ir. Maria do Rosário Onzi, mscs

Articuladora da Província Maria, Mãe dos Migrantes

 Scalabrini – Uma Voz Atual, pg 75 e 76.

 Encerramento do mês de maio de 1870 – Uma Voz Atual, pg. 76 – 77.

  Homilia na Assunção, 1887 – Uma Voz Atual, pg. 76.

. NC n. 58.

   Papa João Paulo II, 30 de novembro de 1980 –  Dives in Misericordia,  n. 9.

 Misericordiae Vultus – O Rosto da Misericórdia,  n. 24.

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